Estava certa vez Pwyll em Arbeth, sua corte principal, e havia uma grande festa com grandes homens. Passado algum tempo, resolveu levantar-se para caminhar, e foi até o topo de um monte que ficava acima da corte e era chamado Gorsedd Arbeth.
"Senhor", disse um de seus cortesãos, "algo sobre este monte é que, tendo subido nele, nenhum homem bem-nascido pode descer sem ter, destas duas coisas, uma: sofrer golpes e ser ferido, ou presenciar uma maravilha."
"Não temo golpes ou feridas no meio deste lugar. Uma maravilha, entretanto, eu ficaria contente em ver. Sentarei, assim neste monte". Foi, então, e sentou-se no monte.
Estando sentados, puderam ver uma mulher num grande e majestoso cavalo branco, com vestes de ouro brilhante brocado com seda, fazendo seu caminho pela estrada que passava em volta do monte. O cavalo tinha um trotar calmo e contínuo, e à mente de todos os que a viam, parecia se aproximar do monte.
"Homens", disse Pwyll,"há entre algum de vocês quem reconheça aquela dama à cavalo?"
"Não há, meu Senhor", responderam.
"Que um de vocês vá até ela e descubra quem é", disse ele.
Um homem se levantou, mas quando chegou até a estrada ela já havia passado. Foi atrás da dama o mais rápido que pode, à pé, mas quanto maior era sua velocidade, mais longe ela parecia estar. Quando percebeu que seguí-la não seria de uso algum, voltou a Pwyll e disse as seguintes palavras:
"Senhor, não adianta que ninguém neste mundo a tente seguir à pé."
"Pois", disse Pwyll, "volte à corte e pegue o cavalo mais rápido que lá houver, e depois vá atrás dela."
O homem então pegou o cavalo e lá se foi. Chegou até um campo aberto e liso e começou a esporar o cavalo, mas quanto mais o fazia, mais longe parecia a moça. Ela estava, entretanto, no mesmo ritmo com o qual havia começado a cavalgar. O cavalo enfraqueceu, e quando notou que diminuía o passo de cansaço, voltou a Pwyll.
"Senhor", disse, "Não adianta seguir aquela dama. Nunca conheci nenhum cavalo mais rápido do que este, e mesmo nele, não houve proveito algum em seguí-la."
"Sim", disse Pwyll, "há algum tipo de significado mágico nisto. Voltemos à corte."
Foram de volta para a corte e lá passaram o resto do dia. No dia seguinte se levantaram e fizeram o mesmo que no anterior, até que chegou a hora de comer. Depois da primeira refeição, disse Pwyll:
"Iremos - todos os que comigo estiveram ontem - para o topo do monte. E tu", disse ele a um de seus soldados, "leve contigo o cavalo mais rápido que houver no campo". Assim fez o soldado. Rumaram então para o monte com o cavalo.
E, estando sentados, puderam avistar a mulher no mesmo cavalo, com os mesmos trajes em volta de si, subindo pela mesma estrada.
"Vejam!", disse Pwyll, aqui vem a mulher em seu cavalo. Esteja preparado, menino, para descobrir quem ela é."
"Senhor, isso eu farei com prazer."
Logo a dama se aproximou do monte. O menino então montou seu cavalo, mas antes mesmo que pudesse sentar direito na sela ela já o havia ultrapassado e criado distância entre eles. Seu ritmo não era em nada diferente do dia anterior. Ele também começou a andar lentamente, supondo que se assim fizesse, se seu cavalo fosse devagar, poderia alcançá-la. Mas foi inútil. Afrouxou as rédeas mas não chegou nem um pouco mais pero do que chegaria se estivesse à pé, e quanto mais golpeava o cavalo, mais longe ela parecia -e ainda assim não andava nem um pouco mais rápido do que antes. Viu o menino que era inútil tentar seguí-la e retornou a Pwyll.
"Senhor", disse, "não há mais nada que se possa fazer com este cavalo, além do que o senhor já pôde ver."
"Pois bem vi", respondeu Pwyll, "que é inútil continuar tentando. Mas, entre mim e Deus, ela tem uma mensagem para alguém nesta campina - se ao menos a obstinação a permitisse transmití-la. Rumemos de volta para a corte.
Voltaram à corte e passaram a noite em canções e festejos, como bem quiseram.
Na manhã seguinte, passaram o dia até que chegou a hora de comer. Assim que terminaram a refeição, Pwyll perguntou: "Onde está o grupo que subiu no monte ontem e no dia anterior?"
"Aqui estamos, senhor", disseram eles.
"Vamos novamente nos sentar no monte. E tu", disse para o garoto do estábulo, "sele bem meu cavalo, leve-o à estrada, e leve também minhas esporas". E assim fez o garoto.
Foram todos a sentar no monte. Mal tendo chegado, avistaram a dama à cavalo, indo pelo mesmo caminho, com os mesmos trajes, no mesmo ritmo.
"Ah, menino, posso ver a dama vindo com seu cavalo!", disse Pwyll. "Traga-me o meu!".
Pwyll montou seu cavalo e assim que o fez, ela o ultrapassou. Ele foi atrás dela e deixou seu vívido cavalo pavonear-se com a velocidade que bem entendesse. Achou que poderia alcançá-la depois do segundo ou terceiro salto. Mas não chegou nem um pouco mais perto do que os outros haviam chegado em todas as outras tentativas anteriores. Esporou o cavalo para que fosse o mais rápido que pudesse, mas viu que era inútil fazer dessa forma.
Então disse Pwyll: "Donzela, por amor ao homem que mais estimas, espere por mim!"
"Com prazer esperarei", disse ela, "mas poderia ter sido melhor para o cavalo se você tivesse me pedido antes."
A donzela parou e esperou, e pôs de lado a parte de seus adereços que cobria a cabeça. Olhou a Pwyll nos olhos, iniciando com ele conversa.
"Senhora", perguntou ele, "de onde és? E pra onde vais?"
"Indo tratar de meus assuntos", disse ela, "e feliz estou em vê-lo."
"Também és bem-vinda para mim", disse ele.
E naquele momento ele percebeu que os rostos de todas as mulheres e garotas que já havia visto eram estúpidos, comparados ao dela.
"Senhora", perguntou, "podes me dizer quais são teus afazeres?"
"Entre mim e Deus eu o direi - minha principal tarefa era ver a ti."
"Bom", disse Pwyll, "esta é a melhor tarefa que poderias ter, a meu ver. E vais me contar quem és?"
"Te contarei, meu senhor", ela respondeu. "Sou Rhiannon, filha de Hyfaidd, O Velho, e sou dada a um homem contra minha vontade. De minha parte, não desejo o amor de nenhum outro homem, por causa do amor que tenho por ti. Não desejarei este outro homem a não ser que me recuses, e é para descobrir tua resposta que venho."
"Entre mim e Deus, esta é minha resposta: se fosse me dada a escolha entre todas as mulheres e moças do mundo, seria você quem eu preferiria."
"Pois", disse ela, "se é este teu desejo, antes que eu seja dada a outro homem, marque um encontro comigo."
"Tanto melhor quanto mais cedo, na minha opinião. Em qualquer lugar que desejardes, que nos encontremos."
"Farei com que seja então, senhor, em um ano partindo de agora, na corte de Hyfaidd, O Velho", respondeu ela, "e ordenarei a preparação de uma festa para tua chegada."
"Com prazer", disse ele, "estarei lá como combinado."
"Senhor", disse ela, "adeus, e lembre-se de manter a promessa. Seguirei meu caminho."
Separaram-se, assim, e foi Pwyll de volta à sua casa e criadagem. Mudava de assunto cada vez que alguém perguntava sobre a donzela.
Depois disso passou-se o ano até que chegasse a hora marcada, e então Pwyll se equipou como um entre cem cavaleiros. Foi até a corte de Hydaidd Hen. Chegou à corte e houve alegria em sua direção. Foi recebido por multidões e júbilo, e grandes preparações foram feitas para sua chegada; todos os recursos da corte foram gastos de acordo com sua direção. O salão foi preparado e foram às mesas. Esta é a forma da qual se sentaram: Hyfaidd Hen de um lado de Pwyll com Rhiannon do outro, e então todos de acordo com suas posições. Começaram assim a beber, comer e falar.
Tendo todos começado suas bebidas de após o jantar, viram entrar um jovem de cabelos ruivos: alto e de conduta principesca, com vestes de brocado de seda em volta de si. E quando chegou à parte superior do salão, saudou Pwyll e seus companheiros.
"Que Deus o abençoe, meu amigo", disse Pwyll. "Venha e sente-se."
"Não me sentarei", disse o jovem. "Sou um requerente, e direi o que tenho a pedir."
"Assim o faça, por favor", disse Pwyll.
"Senhor, é para ti que tenho um pedido, e para dizê-lo é que vim."
"Qualquer favor que me pedirdes, se eu puder fazê-lo, será seu."
"Arre!", disse Rhiannon, "por que dá tal resposta?"
"É esta a resposta que me foi dada, Senhora, na presença de nobres", disse o homem.
"Amigo", disse Pwyll, "qual é teu pedido?"
"Estás prestes a dormir com a mulher que mais amo, esta noite. E é para pedir por ela, juntamente com as provisões e vitualhas que aqui estão, que aqui venho."
Pwyll quedou-se silencioso, pois não havia resposta que pudesse dar.
"Seja tão estúpido quanto quiserdes", disse Rhiannon. "Nunva houve um homem tão lento em seus juízos quanto fostes agora mesmo."
"Senhora", disse, "eu não sabia quem ele era".
"Este é o homem para quem quiseram me dar contra minha vontade. Gwawl, filho de Clud, um homem rico em terras e hostes. E tendo você dito as palavras que disse, tem de me dar a ele para evitar a desonra."
"Senhora, disse ele, "não sei que tipo de resposta é essa. Não poeria nunca em minha vida fazer o que dizes."
"Dê-me a ele", disse Rhiannon, "e eu farei de tal forma que ele nunca me terá."
"Como pode isso ser?", indagou Pwyll.
"Porei um saco pequeno em sua mão: mantenha-o seguro consigo. Ele está pedindo pela festa, pelas provisões e pelas vitualhas. Mas estas não estão debaixo de tua soberania. Eu mesma dei a festa para a criadagem e os convidados, e esta será tua resposta no que diz respeito a esse assunto."
"Quanto a mim", continuou, "arranjarei uma entrevista com ele, dentro de um ano, para que durma comigo. No fim deste ano você estará no pomar lá em cima, com este saco e cem cavaleiros. Quando ele estiver no meio de sua diversão, você entrará vestindo roupas rotas e com o saco nas mãos."
"Arranjarei para que toda a comida e bebida destes sete reinos seja colocada dentro dele, e que mesmo assim não fique mais cheio do que antes. Depois de tanta comida ter sido colocada ali, Gwawl perguntará se seu saco nunca ficará cheio. Você dirá que não, a menos que um nobre senhor de muitas terras pise em cima da comida e diga "aqui foi colocado o bastante!", e eu farei com que ele vá e ponha o pé na comida. Quando assim fizer, levante o saco até que ele fique preso dentro lá dentro e dê um nó nos cordões da ponta. Deves ter um bom corne de caça em pendurado em seu pescoço. Quando ele estiver amarrado e preso, soe o corne - será um sinal para seus homens, que quando ouvirem o som, descerão até a corte.
"Senhor", disse Gwawl, "já é o tempo de terdes uma resposta ao meu pedido".
"O que desejardes", disse Pwyll, "que estiver debaixo de minha soberania, poderás ter."
"Amigo", disse Rhiannon, "sobre a comida e as provisões; estas dei aos homens de Dyfed e à criadagem e aos convidados que cá estão. Não posso pedir a todos que dêem para outra pessoa. Daqui a um ano, entretanto, uma festa será arranjada nesta corte para ti, meu amigo, para celebrar quando dormirdes comigo."
Gwawl voltou então para sua terra. Pwyll, de sua parte, voltou para Dyfed. Cada um passou o resto do ano, até que chegou o tempo da festa na corte de Hyfaidd Hen. Gwawl, filho de Clud, foi à festa que havia sido preparada para ele, e chegou à corte, e houve alegria por sua chegada. Quanto a Pwyll, o Cabeça de Annwfn, foi até o pomar em um grupo de cem cavaleiros, assim como Rhiannon o havia instruído a fazer, tendo o saco consigo. Pwyll vestiu-se em andrajos e pôs botas esfarrapadas em seus pés. Quando percebeu que a bebida de depois do jantar havia sido servida, foi até o salão, e tendo cruzado deste a parte superior, saudou Gwawl e sua companhia de homens e mulheres.
"Deus te abençoe", disse Gwawl, "e que as boas-vindas Divinas estejam sobre você."
"Senhor", ele respondeu, "Deus lhe pague de volta. Como um pedinte me ponho diante de ti."
"Tua súplica é bem-vinda", disse ele, "e se for um favor modesto o que tiverdes a me pedir, então com alegria o concederei."
"É modesto, meu senhor", respondeu. "Não peço nada além do alívio de minha fome. Este é o pedido que faço: que enchas este pequeno saco com comida."
"É de fato uma petição humilde", disse o outro, "e uma que terás atendida com prazer. Tragam-no comida!", comandou.
Um grande número de cortesãos se levantou e começou a encher o saco. Entretanto, por mais comida que jogassem lá dentro, não parecia mais cheio do que estivera antes.
"Amigo", disse Gwawl, "nunca ficará cheio o teu saco?"
"Entre mim e Deus, não ficará", respondeu, "a não ser que um homem nobre com terras, domínios e poder se levante e pise com os dois pés e diga "aqui foi colocado o bastante!".
"Ó, herói", disse Rhiannon, "levante-se agora!".
"Com prazer o farei", ele respondeu.
Levantou-se e colocou os dois pés no saco. Pwyll virou o saco de forma que Gwawl ficasse nele de ponta-cabeça, e rapidamente o fechando, deu um nó nos cordões e soou seu corne. Com isso, seu exército foi até a corte e capturou cada um que havia vindo com Gwawl e fez de todos prisioneiros. Pwyll despiu-se de seus trapos, de suas botas velhas e das vestes rotas nas quais estava.
Cada um de seus soldados, quando lá entrava, dava um golpe no saco e perguntava: "que há neste saco?", para o que os outros respondiam: "um texugo".
Assim foi o jogo que jogaram: cada um golpeava com um chute e com seu bordão. Dessa forma fizeram brincadeiras com o saco.
Toda vez que alguém chegava, perguntava: "que jogo estão aí a jogar?"
"Texugo-no-saco", era a resposta.
E esta foi a primeira vez que se jogou Texugo-no-saco.
"Senhor", disse o homem de dentro do saco, "se puderes me ouvir - esta não é uma morte digna para mim, ser assassinado num saco.
"Senhor", disse Hyfaidd a Pwyll, "ele diz a verdade. É legítimo que o devas ouvir - esta não é uma forma apropriada para este homem morrer."
"Pois", disse Pwyll, "seguirei nisto teu conselho."
"Aqui está um conselho", disse Rhiannon: "Estás agora numa conjuntura em que é próprio dar satisfação tanto a pedintes quando a menestréis. Deixe-o aqui para que dê a todos em seu nome", ela continou, "e faça-o garantir que não tentará se vingar. Isto será para ele punição adequada."
"Ele a isto aceitará de bom grado", disse o homem dentro do saco.
"E de bom grado também eu o aceitarei", respondeu Pwyll, "pelo conselho de Hyfaidd e Rhiannon."
"Este é nosso conselho", responderam eles.
"Neste caso eu aceitarei", disse Pwyll. Escolha para si alguns fiadores."
"Ficaremos do lado dele", disse Hyfaidd, "até que seus homens estejam livres para representá-lo".
Assim, foi solto do saco e seus principais homens foram libertos.
"Agora deves escolher fiadores dentre os de Gwawl", disse Hyfaidd. "Certificamos os que devem ser tirados dele" - e Hyfaidd então enumerou o nome e posição dos fiadores.
"Formule você mesmo as condições", disse Gwawl, "em seus próprios termos."
"A forma em que Rhiannon formulá-las", disse Pwyll, "esta é boa o bastante para mim."
Os fiadores seguiram os termos.
"Pois, senhor", disse Gwawl, "estou machucado, recebi grandes feridas e preciso de um banho. Com sua permissão, seguirei meu caminho. Deixarei alguns nobres no meu lugar, que responderão e darão a todos que vierem a ti pedir.
"Certamente", disse Pwyll, "podes fazer desta forma."
E Gwawl voltou a seu país.
O salão então foi arrumado para Pwyll, seus companheiros e os companheiros da corte. Sentaram-se às mesas, e da mesma forma que haviam se sentado no ano anterior, assim o fizeram naquela noite. Comeram e beberam, e quando chegou a hora foram para a cama. Pwyll e Rhiannon foram para a câmara e passaram a noite em prazer e satisfação.
Na manhã que se seguiu, quando o dia ainda era jovem, Rhiannon disse a Pwyll:
"Senhor, levante-se e comece a indulgência para com os Menestréis, e não recuse hoje nada que de ti desejarem."
"Isto eu farei com prazer", disse Pwyll, "tanto hoje como em qualquer outro dia enquanto durar essa festa."
Então Pwyll se levantou e ordenou silêncio para que pudessem ser feitas quaisquer petições que os Menestréis tivessem a fazer, e garantiu de cada uma a satisfação, de acordo com todos os desejos e caprichos. E isto foi feito. A festa se consumou e nada foi negado enquanto durou.
Quando a festa estava chegando ao fim, Pwyll disse a Hyfaidd: "Senhor, com sua bênção, voltarei a Dyfed amanhã".
"Sim", disse Hyfaidd, "que Deus amacie teu caminho. Diga quanto tempo depois Rhiannon pode o seguir."
"Entre mim e Deus", disse Pwyll, "devemos viajar juntos daqui."
"É teu desejo, senhor, que seja assim?"
"Desta exata forma, entre mim e Deus", respondeu Pwyll.
Então tomaram o caminho para Dyfed, e chegaram à corte de Arbeth, e uma festa foi preparada para sua chegada. Uma multidão de nobres homens e mulheres dos arredores e de toda a nação veio até eles. Nem homem nem mulher deixaram Rhiannon sem presenteá-los com algo especial: broches, anéis ou pedras de grande valor.
Governaram assim o país, prosperamente, pelo resto daquele ano e do seguinte.
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
Ramo I - Conto I
Pwyll Pendeuic Dyfed era o senhor dos sete reinos de Dyfed. Certa vez estava ele em Arberth, uma de suas cortes, e sentiu repentinamente o desejo de caçar. A parte de seu país onde desejou fazê-lo era Glyn Cuch. Saiu então de Arberth naquela mesma noite, indo para Pen Llywyn Diarwya, onde pernoitou.
Ao alvorecer, se levantou e seguiu para Glyn Cuch para soltar seus cachorros no meio do bosque. Soou seu corne e começou a caça, indo atrás dos cães e se separando de seus companheiros.
Atento para ouvir o barulho de sua matilha, ouviu entretanto o ruído de outra, um latido diferente se encontrando com o de seus animais. Avistou uma clareira, como um campo aberto, e enquanto seus cães alcançavam a borda, viu um cervo junto à outra matilha, que por sua vez o atacava e derrubava.
Então percebeu a cor da matilha, mal notando o cervo. Entre todos os cães que havia visto no mundo, não havia outros da mesma cor do que aqueles. Eram de um branco ofuscantemente brilhante e tinham orelhas vermelhas. Tão ofuscante quanto o brilho do branco era o do vermelho.
Assim, foi até os cães e espantou a matilha que havia matado o cervo, deixando seus próprios animais se alimentarem dele.
Estando com isto ocupado, pôde ver um cavaleiro vindo atrás da matilha em um enorme cavalo cinza; com um corne de caça ao redor do pescoço e vestes de um material cinza amarronzado, como uma túnica de caça. O cavaleiro se aproximou, dizendo:
"Chefe", disse, "Sei quem és, mas saudar-te não irei".
"Pois sim", disse Pwyll, "és talvez tão importante que não tenhas de saudar-me?"
"Deus sabe", respondeu, "que não é a dignidade de minha posição o que me detém"
"O que é então, chefe?"
"Entre mim e Deus, é tua rudeza e descortesia"
"Chefe, que descortesia terei eu cometido a seus olhos?"
"Nunca vi eu maior descortesia do que a de um homem que espanta a matilha que matou um cervo, e dá-o de comer a seus próprios cães. Esta foi a descortesia, e embora não deseje vingar-me de ti, entre mim e Deus, alegarei desonra de sua parte, exigindo o valor de cem cervos."
"Chefe, se cometi ofensa, ganharei então de volta sua amizade."
"De que forma queres ganhá-la?"
"De uma que seja apropriada à sua posição - não sei quem és..."
"Rei coroado sou, na terra de onde venho."
"Senhor", disse Pwyll, "bom dia. Qual é a terra, esta de que vens?"
"É Annwvyn. Sou Arawn, rei de Annwfyn."
"Senhor, como posso obter sua amizade?"
"Tal é a forma com a qual a terá: há um homem cujo reino faz fronteira com o meu, um que está constantemente em guerra comigo. É chamado Hafgan, rei de Annwfn. Se tirares de mim essa opressão - o que podes fazer com facilidade -, ganharás minha amizade."
"Teria alegria em fazê-lo. Diz-me pois com que meios."
"Eu lhe direi. Podes fazê-lo assim: atarei um forte laço de amizade contigo. Farei isto dando-te meu lugar em Annwfn, e a mais bela mulher que vistes para dormir contigo todas as noites, e minha forma e aparência serão suas, para que nem o pajem nem o camareiro nem ninguém mais que me serve saiba que és tu e não eu. Assim será até o findar de um ano, partindo de amanhã, e então nos encontraremos de novo neste mesmo lugar."
"Pois sim", respondeu, "estarei eu lá durante um ano. Entretanto, que conselho tenho eu de ti para que ache o homem de que falas?"
"Dentro de um ano," disse Arawn, "haverá um encontro entre mim e ele perto do rio. Estarás lá em minha aparência, e um único golpe deves desferí-lo: ele não o sobreviverá. Mesmo que peça que lhe dê outro, não deves ceder. Pois sempre que o golpeio mais de uma vez, se levanta e consegue revidar no outro dia."
"Pois sim", disse Pwyll, "mas que farei de meu reino?"
"Posso lhe assegurar de que não haverá homem ou mulher em teu reino que saberá que sou eu e não tu; Eu irei em teu lugar."
"Muito bem", disse Pwyll, "sigo então meu caminho."
"Desimpedido será teu caminho, e nada se porá nele até que chegues em meu reino. Eu o guiarei até lá."
Guiou-o então até que pudesse ver a corte e as muitas casas. "Lá estão", disse ele, "a corte e o país, sob suas ordens. Vá até a corte: não haverá ninguém que não o reconheça; observando o serviço lá dentro, aprenderás todas as maneiras."
Ele se aproximou da corte, e lá pôde ver quartos de dormir, salões, e câmaras com a mais bela decoração, em construções que jamais alguém havia visto. Foi até o salão para tirar suas botas. Pajens e serviçais vieram para ajudá-lo, e todos o saudaram ao se aproximar. Dois cavaleiros removeram a túnica de caça de seu corpo, e o puseram vestes de ouro brocado de seda. A sala estava preparada. Eis então que viu os membros da corte entrando - os mais exaltados cortesãos que alguém jamais vira. E atrás deles a rainha - a mais bela mulher jamais vista por alguém -, com vestes brilhantes de ouro brocado de seda. Foram se lavar e assentaram-se à mesa da seguinte forma: a rainha de um lado e o Conde (assim supôs) do outro. Iniciaram então conversa com a rainha. Ao falar com ela, viu que era a mais gentil mulher que já conhecera, em modos e conversação. Passaram o tempo com comida e bebida, cantando e festejando. De todas as cortes em que havia estado, era esta a melhor em comes, bebes, navios de ouro e jóias reais.
Chegou a hora de ir para a cama - e para a cama foram, ele e a rainha. No momento em que se deitaram, virou o rosto para o lado, dando as costas a ela. Dali até a outra manhã, não a dirigiu palavra. No outro dia houve entre eles ternura e conversa cheia de afeto. Era muito afável durante o dia, mas não houve uma única noite que não fosse igual à primeira.
Passou ele o ano caçando, cantando e dançando; entre amigos e conversas com seus companheiros até que chegasse a noite do encontro. O mais distante camponês podia se lembrar de tal data tão bem quanto ele próprio. Foi ao encontro, com os nobres do reino. Assim que chegou ao rio, um cavaleiro apareceu, dizendo:
"Bons homens", disse ele, "ouçam bem. Entre estes dois reis é o compromisso, e entre eles apenas. Um tem reclamações contra o outro, sobre assuntos de reino e território. Que todo o resto de vocês vá para trás, e deixe a luta acontecer somente entre eles."
Com isto os dois reis se aproximaram um do outro, no meio do rio. Na primeira investida o rei que estava no lugar de Arawn atingiu Hafgan no meio de seu escudo, o partindo em dois, e toda sua armadura se quebrou, derrubando Hafgan de seu cavalo no chão e inflingindo-o uma ferida mortal.
"Chefe", disse Hafgan, "que direito tens sobre minha morte? Não tinha eu reclamação alguma contra ti e nem sei porque me matas, mas por Deus, já que começaste minha morte, termine-a agora!"
"Chefe", respondeu, "pode ser que eu me arrependa de ter feito o que te fiz. Ache outro alguém para te matar; eu não o farei."
"Meus fiéis companheiros", disse Hafgan, "carreguem-me para longe daqui. A conclusão de minha morte paira sobre mim. Não estou em condição de apoiá-los novamente."
"Companheiros meus" disse o homem que estava no lugar de Arawn, "façam um cálculo e achem todos os que me devem lealdade."
"Senhor, todos o devem fidelidade, já que agora não há além de ti outro rei em toda Annwfn"
"Pois sim", disse ele, "para aqueles que vêm em paz, a recepção será justa. Quem quer que não cooperar, que seja impelido por força de armas". Então recebeu a homenagem dos homens e tomou a posse da terra, e ao meio-dia do dia seguinte ambos os reinos estavam em seu poder. Sendo assim, rumou até o lugar de encontro em Glyn Cuch. Arawn o esperava. Saudaram-se ambos.
"Bom", disse Arawn, "Deus lhe pague por sua amizade. Ouvi toda a história."
"Sim", respondeu, "quando fores ao teu país verás o que por ti fiz."
"Seja o que tiveres feito, Deus lhe pague."
Arawn então deu a Pwyll Pendeuic Dyuet sua forma e aparência, tomando de volta a sua própria. Voltou para sua corte em Annwfn e se alegrou em encontrar a criadagem e os companheiros, não os tendo visto por tão longo tempo. Eles, entretanto, nada sabiam de sua ausência e não estavam mais surpresos com sua chegada do que antes. Passou o dia com júbilo e alegria, conversando com sua esposa e seus nobres. Quando chegou a hora mais propícia a dormir do que a festejar, foram para a cama.
Deitou-se, e sua mulher com ele. A primeira coisa que fez foi falá-la, e com ela se engajar em prazeres sensuais. Estivera a rainha desacostumada com isso durante um ano, e aí está o que pensou: "Ó Deus", se perguntou, "que outro pensamento é o desta noite, tão diferente do que esteve nele no último ano?". Pensou nisso por longo tempo. Depois, ele acordou e tentou falá-la uma, duas e mais uma terceira vez, sem que pudesse obter resposta.
"Por que não falas comigo?"
"Eu o direi", ela respondeu, "por um ano não falei tanto como agora".
"Por quê", disse ele, "se estivemos conversando o tempo todo?"
"É vergonhoso dizer", respondeu, "que no último ano, toda vez que entrávamos nas roupas de cama, cessava de existir a afeição; não havia conversa nem viravas a face para olhar para mim; muito menos qualquer outra coisa aconteceu entre nós.”
Então ele começou a pensar. "Senhor Deus", disse a si mesmo, "amigo unicamente forte e resoluto é este com quem travei amizade."
Falou à sua mulher: "Senhora", disse, "Não deves culpar-me. Entre mim e Deus, não dormi contigo durante um ano desde a noite passada, e nem me deitei aqui". A ela contou assim toda a história.
"Por Deus", disse ela, "uma fortaleza tens em seu amigo, por guardar-se da tentação carnal e manter boa fé contigo!"
"É isto em que pensava enquanto estava silencioso contigo".
"Não me admiro", ela respondeu.
Quanto a Pwyll Pendevic, voltou a seu país e a suas terras, e perguntou aos nobres como Sua Alteza havia agido durante o último ano, em comparação ao que antes disso tinha sido.
"Senhor", disseram eles, "nunca foi tua sabedoria tão boa; nunca houve companheiro mais afável ou liberal em gastar seus bens, ou seu governo tão justo quanto durante este ano."
"Entre mim e Deus", respondeu ele, "seria para vocês melhor agradecer ao homem que estava realmente aqui. Esta é a história, como aconteceu." E Pwyll contou a eles todos o ocorrido.
"Pois sim, Senhor", disseram, "graças a Deus por ter lhe dado tal amizade. E o bom senhorio que tivemos no último ano, estamos certos de que não o tirará de nós."
"Não o farei, entre mim e Deus."
E daí em diante, uma forte amizade começou entre os dois, cada um presenteando ao outro com cavalos, cães, águias e outros tipos de tesouros que achavam que seria agradável ao gosto do companheiro. E por causa de sua permanência naquele ano em Annwfn, de seu reinado tão próspero lá, e da junção de dois reinos em um por causa de sua resiliência e poder de luta, o nome “Pwyll Pendevic Dyfed” caiu fora de uso, sendo ele então reconhecido como “Pwyll Pen Annwvyn” pelo resto de seus dias.
Ao alvorecer, se levantou e seguiu para Glyn Cuch para soltar seus cachorros no meio do bosque. Soou seu corne e começou a caça, indo atrás dos cães e se separando de seus companheiros.
Atento para ouvir o barulho de sua matilha, ouviu entretanto o ruído de outra, um latido diferente se encontrando com o de seus animais. Avistou uma clareira, como um campo aberto, e enquanto seus cães alcançavam a borda, viu um cervo junto à outra matilha, que por sua vez o atacava e derrubava.
Então percebeu a cor da matilha, mal notando o cervo. Entre todos os cães que havia visto no mundo, não havia outros da mesma cor do que aqueles. Eram de um branco ofuscantemente brilhante e tinham orelhas vermelhas. Tão ofuscante quanto o brilho do branco era o do vermelho.
Assim, foi até os cães e espantou a matilha que havia matado o cervo, deixando seus próprios animais se alimentarem dele.
Estando com isto ocupado, pôde ver um cavaleiro vindo atrás da matilha em um enorme cavalo cinza; com um corne de caça ao redor do pescoço e vestes de um material cinza amarronzado, como uma túnica de caça. O cavaleiro se aproximou, dizendo:
"Chefe", disse, "Sei quem és, mas saudar-te não irei".
"Pois sim", disse Pwyll, "és talvez tão importante que não tenhas de saudar-me?"
"Deus sabe", respondeu, "que não é a dignidade de minha posição o que me detém"
"O que é então, chefe?"
"Entre mim e Deus, é tua rudeza e descortesia"
"Chefe, que descortesia terei eu cometido a seus olhos?"
"Nunca vi eu maior descortesia do que a de um homem que espanta a matilha que matou um cervo, e dá-o de comer a seus próprios cães. Esta foi a descortesia, e embora não deseje vingar-me de ti, entre mim e Deus, alegarei desonra de sua parte, exigindo o valor de cem cervos."
"Chefe, se cometi ofensa, ganharei então de volta sua amizade."
"De que forma queres ganhá-la?"
"De uma que seja apropriada à sua posição - não sei quem és..."
"Rei coroado sou, na terra de onde venho."
"Senhor", disse Pwyll, "bom dia. Qual é a terra, esta de que vens?"
"É Annwvyn. Sou Arawn, rei de Annwfyn."
"Senhor, como posso obter sua amizade?"
"Tal é a forma com a qual a terá: há um homem cujo reino faz fronteira com o meu, um que está constantemente em guerra comigo. É chamado Hafgan, rei de Annwfn. Se tirares de mim essa opressão - o que podes fazer com facilidade -, ganharás minha amizade."
"Teria alegria em fazê-lo. Diz-me pois com que meios."
"Eu lhe direi. Podes fazê-lo assim: atarei um forte laço de amizade contigo. Farei isto dando-te meu lugar em Annwfn, e a mais bela mulher que vistes para dormir contigo todas as noites, e minha forma e aparência serão suas, para que nem o pajem nem o camareiro nem ninguém mais que me serve saiba que és tu e não eu. Assim será até o findar de um ano, partindo de amanhã, e então nos encontraremos de novo neste mesmo lugar."
"Pois sim", respondeu, "estarei eu lá durante um ano. Entretanto, que conselho tenho eu de ti para que ache o homem de que falas?"
"Dentro de um ano," disse Arawn, "haverá um encontro entre mim e ele perto do rio. Estarás lá em minha aparência, e um único golpe deves desferí-lo: ele não o sobreviverá. Mesmo que peça que lhe dê outro, não deves ceder. Pois sempre que o golpeio mais de uma vez, se levanta e consegue revidar no outro dia."
"Pois sim", disse Pwyll, "mas que farei de meu reino?"
"Posso lhe assegurar de que não haverá homem ou mulher em teu reino que saberá que sou eu e não tu; Eu irei em teu lugar."
"Muito bem", disse Pwyll, "sigo então meu caminho."
"Desimpedido será teu caminho, e nada se porá nele até que chegues em meu reino. Eu o guiarei até lá."
Guiou-o então até que pudesse ver a corte e as muitas casas. "Lá estão", disse ele, "a corte e o país, sob suas ordens. Vá até a corte: não haverá ninguém que não o reconheça; observando o serviço lá dentro, aprenderás todas as maneiras."
Ele se aproximou da corte, e lá pôde ver quartos de dormir, salões, e câmaras com a mais bela decoração, em construções que jamais alguém havia visto. Foi até o salão para tirar suas botas. Pajens e serviçais vieram para ajudá-lo, e todos o saudaram ao se aproximar. Dois cavaleiros removeram a túnica de caça de seu corpo, e o puseram vestes de ouro brocado de seda. A sala estava preparada. Eis então que viu os membros da corte entrando - os mais exaltados cortesãos que alguém jamais vira. E atrás deles a rainha - a mais bela mulher jamais vista por alguém -, com vestes brilhantes de ouro brocado de seda. Foram se lavar e assentaram-se à mesa da seguinte forma: a rainha de um lado e o Conde (assim supôs) do outro. Iniciaram então conversa com a rainha. Ao falar com ela, viu que era a mais gentil mulher que já conhecera, em modos e conversação. Passaram o tempo com comida e bebida, cantando e festejando. De todas as cortes em que havia estado, era esta a melhor em comes, bebes, navios de ouro e jóias reais.
Chegou a hora de ir para a cama - e para a cama foram, ele e a rainha. No momento em que se deitaram, virou o rosto para o lado, dando as costas a ela. Dali até a outra manhã, não a dirigiu palavra. No outro dia houve entre eles ternura e conversa cheia de afeto. Era muito afável durante o dia, mas não houve uma única noite que não fosse igual à primeira.
Passou ele o ano caçando, cantando e dançando; entre amigos e conversas com seus companheiros até que chegasse a noite do encontro. O mais distante camponês podia se lembrar de tal data tão bem quanto ele próprio. Foi ao encontro, com os nobres do reino. Assim que chegou ao rio, um cavaleiro apareceu, dizendo:
"Bons homens", disse ele, "ouçam bem. Entre estes dois reis é o compromisso, e entre eles apenas. Um tem reclamações contra o outro, sobre assuntos de reino e território. Que todo o resto de vocês vá para trás, e deixe a luta acontecer somente entre eles."
Com isto os dois reis se aproximaram um do outro, no meio do rio. Na primeira investida o rei que estava no lugar de Arawn atingiu Hafgan no meio de seu escudo, o partindo em dois, e toda sua armadura se quebrou, derrubando Hafgan de seu cavalo no chão e inflingindo-o uma ferida mortal.
"Chefe", disse Hafgan, "que direito tens sobre minha morte? Não tinha eu reclamação alguma contra ti e nem sei porque me matas, mas por Deus, já que começaste minha morte, termine-a agora!"
"Chefe", respondeu, "pode ser que eu me arrependa de ter feito o que te fiz. Ache outro alguém para te matar; eu não o farei."
"Meus fiéis companheiros", disse Hafgan, "carreguem-me para longe daqui. A conclusão de minha morte paira sobre mim. Não estou em condição de apoiá-los novamente."
"Companheiros meus" disse o homem que estava no lugar de Arawn, "façam um cálculo e achem todos os que me devem lealdade."
"Senhor, todos o devem fidelidade, já que agora não há além de ti outro rei em toda Annwfn"
"Pois sim", disse ele, "para aqueles que vêm em paz, a recepção será justa. Quem quer que não cooperar, que seja impelido por força de armas". Então recebeu a homenagem dos homens e tomou a posse da terra, e ao meio-dia do dia seguinte ambos os reinos estavam em seu poder. Sendo assim, rumou até o lugar de encontro em Glyn Cuch. Arawn o esperava. Saudaram-se ambos.
"Bom", disse Arawn, "Deus lhe pague por sua amizade. Ouvi toda a história."
"Sim", respondeu, "quando fores ao teu país verás o que por ti fiz."
"Seja o que tiveres feito, Deus lhe pague."
Arawn então deu a Pwyll Pendeuic Dyuet sua forma e aparência, tomando de volta a sua própria. Voltou para sua corte em Annwfn e se alegrou em encontrar a criadagem e os companheiros, não os tendo visto por tão longo tempo. Eles, entretanto, nada sabiam de sua ausência e não estavam mais surpresos com sua chegada do que antes. Passou o dia com júbilo e alegria, conversando com sua esposa e seus nobres. Quando chegou a hora mais propícia a dormir do que a festejar, foram para a cama.
Deitou-se, e sua mulher com ele. A primeira coisa que fez foi falá-la, e com ela se engajar em prazeres sensuais. Estivera a rainha desacostumada com isso durante um ano, e aí está o que pensou: "Ó Deus", se perguntou, "que outro pensamento é o desta noite, tão diferente do que esteve nele no último ano?". Pensou nisso por longo tempo. Depois, ele acordou e tentou falá-la uma, duas e mais uma terceira vez, sem que pudesse obter resposta.
"Por que não falas comigo?"
"Eu o direi", ela respondeu, "por um ano não falei tanto como agora".
"Por quê", disse ele, "se estivemos conversando o tempo todo?"
"É vergonhoso dizer", respondeu, "que no último ano, toda vez que entrávamos nas roupas de cama, cessava de existir a afeição; não havia conversa nem viravas a face para olhar para mim; muito menos qualquer outra coisa aconteceu entre nós.”
Então ele começou a pensar. "Senhor Deus", disse a si mesmo, "amigo unicamente forte e resoluto é este com quem travei amizade."
Falou à sua mulher: "Senhora", disse, "Não deves culpar-me. Entre mim e Deus, não dormi contigo durante um ano desde a noite passada, e nem me deitei aqui". A ela contou assim toda a história.
"Por Deus", disse ela, "uma fortaleza tens em seu amigo, por guardar-se da tentação carnal e manter boa fé contigo!"
"É isto em que pensava enquanto estava silencioso contigo".
"Não me admiro", ela respondeu.
Quanto a Pwyll Pendevic, voltou a seu país e a suas terras, e perguntou aos nobres como Sua Alteza havia agido durante o último ano, em comparação ao que antes disso tinha sido.
"Senhor", disseram eles, "nunca foi tua sabedoria tão boa; nunca houve companheiro mais afável ou liberal em gastar seus bens, ou seu governo tão justo quanto durante este ano."
"Entre mim e Deus", respondeu ele, "seria para vocês melhor agradecer ao homem que estava realmente aqui. Esta é a história, como aconteceu." E Pwyll contou a eles todos o ocorrido.
"Pois sim, Senhor", disseram, "graças a Deus por ter lhe dado tal amizade. E o bom senhorio que tivemos no último ano, estamos certos de que não o tirará de nós."
"Não o farei, entre mim e Deus."
E daí em diante, uma forte amizade começou entre os dois, cada um presenteando ao outro com cavalos, cães, águias e outros tipos de tesouros que achavam que seria agradável ao gosto do companheiro. E por causa de sua permanência naquele ano em Annwfn, de seu reinado tão próspero lá, e da junção de dois reinos em um por causa de sua resiliência e poder de luta, o nome “Pwyll Pendevic Dyfed” caiu fora de uso, sendo ele então reconhecido como “Pwyll Pen Annwvyn” pelo resto de seus dias.
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